Fazendo parte da nossa identidade nacional, posso observar que dá algum prestígio ao nosso país (sublinho aqui que apesar de não ser grande apreciadora deste estilo musical, isso não significa que não reconheça a grandiosidade artística do mesmo), mas estou um pouco relutante em relação à sua consagração como património da Humanidade, o fado pertence ao património de Portugal, nasceu no mesmo país que viu Luís de Camões vir ao mundo, e apesar de trazer à nossa bela terrinha o reconhecimento que ela talvez merece no que toca à música, não considero isso pretexto suficiente para uma das nossas maravilhas nacionais se tornar uma maravilha não a nível mundial, mas uma maravilha do mundo, isto porque há uma diferença entre dar a conhecer aos outros países um pouco da nossa genialidade, e tornar património deles as obras de arte feitas por nós. O fado é português, e expressa em si a saudade e a nostalgia de uma maneira que só os portugueses conseguem verdadeiramente sentir e entender. Uma das coisas que me é transmitida cada vez que oiço um fado quando passeio na Baixa de Lisboa é que a mais bela palavra portuguesa se escreve ''saudade'', a palavra cantada nas entrelinhas das letras dos fados, e que há uma diferença entre a saudade e a saudade portuguesa, sentida de uma forma única, que as outras nações não conseguirão nunca sentir, nem perceber a nostalgia patente nas vozes dos fadistas. O fado, no meu ver, é a maneira como Deus ouve Portugal e só Portugal, assim como o country é a maneira como Ele ouve a costa oeste dos Estados Unidos e o flamenco é a forma como Ele ouve os espanhóis. E apesar de também não me considerar patriota, acho que o que é nosso é nosso, o que é daquele é daquele, sem assim nenhum país deixar de dar a conhecer ao mundo os seus feitos, mas sem permitir que o mundo tire o partido deles para si e os torne num património seu, tornando as coisas únicas em coisas de todos, arrancando as suas origens pela raiz, tornando-as num artigo de todos, de todo o mundo, o que no meu sincero ponto de vista tira um pouco o mérito aos portugueses. Injustiça.
Acho que cada país, cada povo, cada nação deve desenvolver a sua individualidade, o seu património nacional, tornando únicas as suas características, neste caso musicais, porque o povo não se pode expressar melhor do que através da música que desenvolve na sua terra natal, as sensações nascidas e criadas naquele país, sentidas daquela maneira que só aquela nação sente, em vez de deixar o mundo roubar para si a sua genialidade. No fundo, o mérito é todo nosso, merecemo-lo para nós. E vejo que é mais que justo e até benéfico mostrar ao mundo do que somos capazes, mas há uma diferença entre dar a provar o que é seu e permitir que os outros países tornem, considerem deles aquilo que nós desenvolvemos cá. E o fado foi cá desenvolvido, é nosso, nosso património, relembrando que património vem de Pátria e não de Humanidade.
Escrito por Beatriz Reis Mateus, dia 29 de Novembro de 2011.